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Caibienses relatam como é conviver com a Aids e com o preconceitos da comunidade

PREVENÇÃO A reportagem do Jornal Expresso d’Oeste entrevistou um portador de HIV de Caibi que perdeu a esposa pela Aids, uma doença que já matou mais de 290 pessoas da região

Geral - 11/12/2015 14:32

ESTADO - Dezembro é o mês de conscientização contra a Aids, e Santa Catarina colocou como meta: erradicar a transmissão da Aids de mãe para filho(a), investir em informação, prevenção e, a partir da consciência com relação à testagem, o início imediato do tratamento, a fim de reduzir a carga viral e a possibilidade de transmissão.

SC ocupa o terceiro lugar no ranking nacional em mortalidade em função da doença, estando entre os estados com aumento significativo de infecções por HIV. De acordo com o Boletim Epidemiológico HIV-Aids 2014 (ano base 2013), o Brasil registrou 39.501 novos casos da doença. Desses, 2.055 foram detectados em Santa Catarina.

Naquele ano, a taxa de detecção do país foi de 20,4 novos casos para cada grupo de 100 mil habitantes, enquanto Santa Catarina apresentou 32,2 casos por 100 mil pessoas. Em relação ao número de óbitos, foram registradas 12.431 mortes no Brasil. Em Santa Catarina foram 575. O coeficiente de mortalidade do Brasil, em 2013, foi de 5,7. Em Santa Catarina, 7,5.

O Ministério de Saúde alerta que para cada caso de HIV confirmado, há possibilidade de mais quatro estarem com a doença e não saberem. Essa doença infectocontagiosa causada pelo vírus HIV (Human Immuno deficiency Virus) leva à perda progressiva da imunidade.

Para prevenir, todos ou quase todos sabem que a camisinha é a melhor forma de prevenção, mas mesmo assim 45% da população sexualmente ativa do país não usou preservativo nas relações sexuais casuais nos últimos 12 meses. Esses dados são da Pesquisa de Conhecimentos, Atitudes e Práticas na População Brasileira (PCAP).

 

Ele é HIV positivo e ela não, eles são pais

 

A reportagem do Jornal Expresso d’Oeste entrevistou um portador de HIV de Caibi que perdeu a esposa pela Aids. Na época ela era gestante e portava o vírus. Um caso de diagnostico tardio, que acabou com uma vida, mas gerou uma outra. Para preservar a integridade das fontes, os nomes não serão divulgados. Essa história envolve a luta pela vida, preconceitos, medo, insegurança e o duelo diário para ser aceito pela sociedade.

Jorge (nome fictício) é portador da Aids, a filha também, ela foi contaminada pela “transmissão vertical”, de mãe para filho(a). O pai tenta resgatar a história, que, por algum tempo tenta esquecer. Os primeiros sintomas surgiram durante a gestação, quando a esposa começou a perder peso, enquanto o bebê tinha ganhado. A filha do casal nasceu, mas a mulher não saiu mais da cama. Ela foi submetida a exames, que diagnosticaram que era portadora do HIV. A perda constante da imunidade deixou a paciente durante dois anos acamada, até que a doença a venceu.

A recém nascida (HIV positivo) foi levada para a unidade de tratamento intensivo (UTI), por lá ficou 40 dias. Jorge parou de trabalhar para cuidar da filha em Chapecó. “Perdi minha esposa, fiquei cuidando da minha filha durante dois anos sozinho”, conta. Ele não sabe explicar como pegou o HIV, e hoje com o tratamento leva uma vida normal, mas a base de medicamentos.

Já a filha, quase não resistiu ao tratamento, mas hoje, também vive uma vida praticamente normal regrada pelo coquetel antirretrovirais. “É complicado, a cada 12 horas, ela precisa tomar o medicamento, é um tratamento muito forte e constantemente pergunta o motivo dos remédios, mas ela não sabe o que ela tem”, conta. 

O homem atualmente é empregado e casado com outra mulher. Camila (nome fictício) deixou os estudos, foi contra a vontade dos pais para ficar com Jorge. Essa história de novela superou arbitrariedade dos familiares e da sociedade. “Muitos me dizem pra mim largar dele, pois ele iria fazer a mesma coisa que a primeira esposa”, afirma Camila. Hoje o relacionamento com os pais de Camila é de harmonia, pois eles aceitaram a relação do casal.

Camila é HIV negativo, ou seja, não tem o vírus. O casal já tem um filho, e não foi por meio de inseminação artificial. Como a mãe não é portadora, nem o filho foi contaminado. “Quando a doutora ficou sabendo que o meu marido era portador do HIV ela se desesperou. Ela perguntou pra mim se eu tinha, eu disse que não. Ela duvidou e disse que não tinha essa possibilidade. Foram feitos exames que mostraram que eu não tinha HIV”, conta Camila.

A infectologista Priscila Rodrigues Garrido Bratkowski explica que o risco de transmissão do HIV em uma relação sexual varia de 0,1% a 10%, dependendo de fatores relacionados ao vírus, relacionados ao tipo de relação sexual (anal, vaginal, oral) e relacionados ao portador do vírus.

Com a evolução do tratamento, o vírus fica latente no corpo, o que diminui a possibilidade de contaminação. Porém, a profissional acrescenta que a principal forma de transmissão do HIV é por meio da relação sexual. “Portanto o uso de preservativos é fundamental para evitar a transmissão”, recomenda.

 

“FALTA INFORMAÇÃO”

 

Jorge relata que a filha teve alguns problemas na escola, alguns pais não queriam que os filhos ficassem na mesma sala de aula que ela. No entanto, a Secretaria de Educação do município não cedeu à pressão dos outros pais, mantendo-a no mesmo ambiente que os outros alunos.

No trabalho, o homem conta que foi muito bem recebido pelos colegas, mas não recebe mais convites para as partidas de futebol. Na rua, Jorge tenta evitar, e sai de casa apenas de carro, pois ele percebe o olhar de julgamento por onde anda. “Eu não sei sair a pé pela cidade, as pessoas te apontam de dedo. Às vezes a gente estampa no rosto algo que não é nosso sentimento real, eu tento não baixar a cabeça, mas por dentro isso está me corroendo. O que me faz seguir em frente são os meus filhos e a minha esposa”, revela.

Camila há cinco anos não consegue emprego em Caibi. “Falta informação, as pessoas só olham o lado ruim e não veem o lado bom, nós vivemos uma vida normal”, alega. Para ela, Aids nunca foi problema. “As pessoas falavam e eu não dava bola, nunca dei importância. Eu tinha medo, mas com ele eu não tive, não tem explicação. É simplesmente amor”, frisa.

Priscila comenta que ainda existe muito preconceito. Os pacientes sofrem com comentários da comunidade ou da própria família. Relatam inclusive demissão do emprego, o que é ilegal. “Tudo isso acontece por falta de informação com relação às formas de transmissão da doença”, declara.

 

Dados Regionais  

            Os dados a seguir foram divulgados pelo Hospital Dia de Chapecó. O hospital faz o acompanhamento dos casos de Chapecó e de mais 36 municípios da região. Os números são desde 1984. A reportagem também consultou o Serviço de Atendimento Especializado em HIV/Aids de São Miguel do Oeste, que atende 21 municípios do Extremo Oeste Catarinense. De acordo com a enfermeira responsável, Juliana Pinheiros, o SAE acompanha 180 pacientes. Em 2013 foram 12 novos casos, 2014 18 novos casos e em 2015 40 novos casos. Ela deve a esse aumento ao acesso facilitado do teste rápido, que em poucos minutos diagnostica o HIV. 

TOTAL GERAL HIV/AIDS EM ACOMPANHAMENTO:

 910

TOTAL GERAL DE TRANSFERÊNCIAS:

323

TOTAL GERAL DE ABANDONOS:

138

TOTAL GERAL DE ÓBITOS:

294

TOTAL GERAL ÓBITOS USUÁRIOS SOROPOSITIVOS POR OUTRAS CAUSAS:

 27

TOTAL GERAL DE REGISTROS HIV/AIDS NO HOSPITAL DIA:

1692

TOTAL GERAL USUÁRIOS ACOMPANHAMENTO HOSPITAL DIA:

1724

TOTAL DE ACOMPANHAMENTO NO SAE DE SÃO MIGUEL DO OESTE

180

TOTAL DE ÓBITOS NO SAE DE SÃO MIGUEL DO OESTE (MÉDIA)

5/ano

 

 

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