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Quatro mulheres e nobre missão de seguir em frente

Nesta edição, a reportagem do Jornal Expresso traz uma história de superação e orgulho de ser trabalhador por meio da bela lição de vida, repassada pela família Schneider, de Linha Bagé (Caibi)

DIA DO TRABALHO - 30/04/2018 10:04
Foto: Andrieli Severo | Joelma, ao lado da sogra e filhas
Joelma de Oliveira possuía 15 anos quando decidiu ir morar com o namorado Rubin, em 1996. Após dois anos, a união foi oficializada e o sobrenome Schneider, do companheiro, passou a fazer parte da assinatura da jovem. O casal vivia com os pais dele, Helga e David, em Linha Bagé, interior de Caibi.
A propriedade foi herdada dos pais de Dona Helga. Por ser a mais nova da família, os irmãos mais velhos se casaram e foram embora. “Eu fiquei com meus pais, me casei, criei meus três filhos. As filhas casaram e foram morar fora, mas o Rubin, desde criança, dizia que ficaria com os pais”, explica Dona Helga, hoje com 80 anos.
Foto: Andrieli Severo | Entrada para a propriedade da família, em Linha Bagé (Caibi)
  Os primeiros passos de Joelma em uma propriedade rural foram de muitos aprendizados. Antes disso, ela vivia na cidade com seus pais, trabalhava de doméstica e pouco conhecia sobre as rotinas do interior. “Era totalmente diferente, eu não sabia fazer pão, nem carnear uma galinha, lá em casa a mãe fazia e eu não aprendi. Eu vim aqui com vontade, tinha vontade de aprender e a sogra tinha paciência de ensinar”, conta.
Ainda em 1998, a família precisou lidar com a perda do David, pai de Rubin. Dois anos depois, em 20 de outubro de 2000, nasceu a primeira filha do casal, Eliza. Mais tarde, em 06 de novembro de 2002, chegou a segunda, Karina. Juntos, os cinco formaram uma família unida e com uma propriedade rural majestosamente estruturada.
A matriarca conta que o segredo para o sucesso da família estava na união e participação dos cinco. Não havia uma voz menos importante nas decisões. Todas as manhãs, ao sentar-se à mesa para o café, conversavam e pensavam, juntos, sobre as tarefas do dia e investimentos futuros. Rubin, Joelma, Dona Helga e as meninas, eram vistos como uma família realizada e imensamente feliz.
03 DE AGOSTO DE 2017
Parecia ser um dia normal. Era uma quinta-feira, terceiro dia do mês de agosto do ano passado. Durante a manhã e à tarde, todos cumpriram suas atividades conforme planejado. Anoiteceu, entraram em casa e, cada um à sua forma, preparava-se para o dia seguinte. Então começaram a ouvir barulhos estranhos e desconfiaram de que não seria um dia comum.
Estavam certos. Dois homens entraram na residência e, inicialmente, solicitaram objetos. O pensamento de que eram apenas bens materiais confortou a família, enquanto imaginavam que os bandidos iriam embora. Porém, na verdade, o assalto era o retorno de um ex-funcionário. Seis anos após trabalhar na propriedade, ele voltou com o objetivo de tirar a vida do ex-patrão. Com um disparo de arma de fogo, Rubin foi assassinado na frente da família, dentro da própria casa.
O que mudou depois disso? Tudo. 
O trabalho é a única coisa que me faz esquecer um pouco do que aconteceu.Joelma, sobre a noite de 03 de agosto de 2017
O RECOMEÇO
“A paixão de Rubin sempre foi a nossa propriedade”, explica Joelma. Por este motivo, apesar do desespero, desistir de tudo não foi uma opção. “Era melhor nós mesmas seguir em frente”, comenta Joelma.
A família optou por diminuir a quantidade de vacas leiteiras e parte do plantio. Para recomeçar, os vizinhos e técnicos foram fundamentais. O ‘senhor Mila’, que auxiliava na propriedade antes do ocorrido, também continuou. Na dúvida, Joelma questionou, pediu opinião e ouviu os conselhos de quem buscou auxiliá-la.
Hoje, ela comenta que aprendeu a administrar a propriedade, braçalmente e financeiramente. Mas comenta, que pelo fato de ser mulher, já sentiu e percebeu pessoas tentando se aproveitar da situação. “Não tenho palavras para dizer o quanto o povo é bom, mas por ser mulher, tem gente que não tem respeito. Aconteceram casos em que não tive o mesmo respeito de quando ele estava junto”, recorda.
Taís Boer, de 17 anos, vizinha da família, afirma admirar coragem das quatro mulheres. Ela comenta que “quando a gente ouve falar que acontece algo nesse sentido, a primeira coisa é o abandono. Elas poderiam muito bem ter abandonado quando tudo aconteceu, mas decidiram tocar em frente”, destaca.
 
Olha o quanto a gente sofre consegui deixar tudo ajeitado. Nunca coloquem fora quando o pai e a mãe não estiverem mais aqui. Rubin, às filhas, uma semana antes de falecer.
PENSANDO NO FUTURO
Foto: Andrieli Severo | Joelma, ao lado da sogra e filhas
Karina está com 15 anos. Ela cursa o primeiro ano do Ensino Fundamental pela parte da manhã. Nesta fase da vida, diz ter muitos planos, mas não possuir clareza do que irá estudar, por exemplo. Mas uma decisão é certa: ela pretende continuar na propriedade, adquirir mais conhecimento e contribuir de alguma forma.
Eliza, por sua vez, percebe mais claramente seus objetivos para o futuro. Ela está no terceiro ano do Ensino Médio e estuda no período vespertino. Pretende cursar Medicina Veterinária. Desde pequena, ela interessava-se pelos trabalhos na propriedade. Isso se fortaleceu após o falecimento do pai. “Continuar é o que eu quero, não só porque é meu, é porque eu tenho amor por isso que eu faço. E o pai iria gostar se eu ficasse aqui”, afirma.
A mãe diz que a filha precisou amadurecer rapidamente e priva-se de “muitas coisas da fase da vida dela”. Era Rubin quem acordava de madrugada e ia com a esposa para o trabalho. Atualmente, Eliza cumpre este papel, enquanto Karina vai à escola pela manhã.
Mãe e filhas participam de palestras e treinamentos, pesquisam novidades e buscam informações. Elas aprenderam a fazer inseminação, fazem medicação quando os animais estão doentes, entre outros. Eliza afirma que, apesar de não ser necessário tanto trabalho braçal, é preciso pensar e planejar todos os detalhes.
DIA DO TRABALHO: ENTENDA A DATA
O Dia Do Trabalho é, também, feriado nacional. Para falar sobre a origem da data e suas mudanças até os dias atuais, a professora de História, Isaura Canal Quadro, responde alguns questionamentos:
Foto: Arquivo pessoal | Professora Isaura Canal Quadro
Expresso d’Oeste: Por que o dia do Trabalho é comemorado em 1º de maio?
Isaura:  Neste dia, em Chicago, mais de 1 milhão de trabalhadores saíram às ruas para protestar. Centenas foram presos pela polícia. Três dias depois, numa assembleia na praça Haymarket, uma bomba explodiu, matando dezenas de trabalhadores e ferindo outros 200. Mesmo ilegais e com tamanha repressão, os protestos resultaram em mudanças.
Em 1890, o Congresso americano votou e aprovou a lei que fixava a carga horária de trabalho em oito horas. Antes disso, eram comuns jornadas de mais de 14 horas. Aqui no Brasil, a chegada dos europeus no fim do século XIX e começo do século XX trouxe com eles os ideais de luta trabalhista. A Greve Geral de 1917 ajudou a pressionar o governo pela mudança no cenário operário. Em 1925, o então presidente Artur Bernardes decretou o Dia do Trabalhador, como também é chamado, em 1º de maio.
Expresso d’Oeste: Qual a importância da data para a consolidação dos direitos do trabalhador?
Isaura: A maior mudança veio com a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Em 1º de maio de 1943, Getúlio Vargas assinou o Decreto-Lei nº 5.452 garantindo direitos básicos, como salário mínimo e duração da jornada de trabalho.
Expresso d’Oeste: O que mudou de 1943 até os dias atuais?
Isaura: Os méritos desta legislação são inúmeros e de longo alcance. Ela possibilitou a construção de Relações de Trabalho em que ambas as partes possuem suas obrigações e direitos. Isso não é pouco, mesmo porque a abolição da escravatura tinha ocorrido há pouco mais de 50 anos.
Esta legislação criou uma tríade que se baseia as relações de trabalho, são elas: o estabelecimento de um teto para carga horária, juntamente com uma remuneração mínima para tal; a construção da possibilidade de uma seguridade social, com os afastamentos médicos e aposentadoria e o surgimento de uma Justiça do Trabalho que julga e pune aqueles que desrespeitam a Lei.
Expresso d’Oeste: Estamos em época de reforma trabalhista. Em sua opinião, ela beneficia ou prejudica o trabalhador?
Isaura: Depende da análise do contexto socioeconômico atual e sob qual perspectiva se analisa, mas se reconhece o fato de que as partes contratuais, na relação de trabalho são conscientes de seus direitos e obrigações; e sobretudo, tem relação de dependência uma da outra para sobreviver e vencer num mercado extremamente competitivo e exigente. A lei passará a reconhecer o que acontece no mundo real, prevendo o que já não é tão novo, mas faz parte de nosso cotidiano. A pior forma de se regular algo é negar-lhe a existência.


 

Fonte: Jornal Expresso d'Oeste/Andrieli Severo
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